Dia Nacional da Consciência Negra: uma reflexão.

Movidas pelo Dia Nacional da Consciência Negra, trazemos uma reflexão a partir das ideias de Frantz Fanon. Nós acreditamos em uma Psicanálise anti-racista que se conscientiza e mobiliza a fim de lutar contra o racismo estrutural de nossa sociedade.

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Frantz Fanon, psiquiatra e psicanalista francês martinicano, em 1952, escancara a especificidade da violência sofrida por pessoas pretas em um sistema racista marcado pelo colonialismo. Contrapondo-se a uma psicanálise cuja conceituação do fenômeno da despersonalização se delimitava a um contexto majoritariamente subjetivo e pessoal, como o da relação mãe-bebê, o teórico explicita que socialmente pessoas pretas são constantemente expostas a situações despersonalizantes, sentidas nas mais variadas interações e relações cotidianas, em que seus pensares, suas histórias e suas vidas subjetivas são simplesmente anulados pelo olhar que os reduz à própria epiderme.

Sendo retirada a condição humana de pessoas negras, a partir do olhar da branquitude, suas existências e subjetividades são reduzidas, e seus corpos marcados e minimizados. Essas experiências eminentemente traumáticas que atravessam a vida de sujeitos pretos podem provocar efeitos de despersonalização significativos, gerando intenso sofrimento psíquico.

Passaram-se 68 anos desde a nomeação deste fenômeno por Fanon e devemos nos questionar: o que mudou de lá para cá? Quando a existência negra não é invisibilizada no olhar, é invisibilizada de maneira física. Na semana em que refletimos sobre o Dia Nacional da Consciência Negra, mais uma vez, infelizmente, os resultados dessa negação à condição de ser humano das pessoas pretas – o racismo – foram sentidos. Como diz Emicida em sua música Ismália, ''a felicidade do branco é plena, a felicidade do preto é quase''.

Expressamos nosso profundo lamento e revolta pelo assassinato de João Alberto Silveira Freitas, vítima de um sistema que mata, a cada 23 minutos, um jovem preto no Brasil. Acreditamos piamente na responsabilidade de se pensar uma Psicanálise anti-racista a fim de se lutar contra o racismo estrutural brutal instaurado em nossa sociedade. Vidas negras importam.